Trnava Intertour 2018

Pessoal vou relatar minha experiência no intertour de F5J disputado esse final de semana em Trnava, Eslováquia. O relato inclui a minha impressão sobre o Campeonato e o desenvolvimento das baterias então é, no mínimo tendencioso.
Após uma batalha com a receita do Brasil meus dois modelos russos foram devolvidos ao fabricante sem qualquer tipo de explicação. Eles foram então enviados ao Palo Lishak na Eslováquia com que meu pretendia retirar.
Fui ao Campeonato usando um app de caronas, o papo foi bom nas mais de 6 horas de viagem e o casal que me forneceu a carona foi muito gentil me levando ate o aeródromo de Boleraz já depois da meia-noite. Montei minha barraca no gramado e dormi.
Acordei às 6:00 ansioso para montar os modelos que ainda careciam de motores mas nao tinha uma alma acordada naquela hora. Passados alguns minutos um senhor com cara de sono me encontra e se apresenta como Palo, feliz me entregou os modelos e foi se ajeitar.
Agora com luz do dia pude contemplar a grande quantidade de motor-homes e trailers pelo campo, algumas barracas e modelos de todos os tipos, muitos Maxas, Pikes, Explorers e outros tantos que nunca havia visto como Cyclones, Fortune, Infinity e até um Elasto (alias um show à parte esse modelo).
 Gastei uma hora colocando o Redfox baby no nariz do modelo, hélice, ESC e RX. Eram quase 8h quando acabei e consegui fazer dois voos de dois minutos para trimar, essa foi minha preparação para a prova. Fui em seguida me registrar e pegar dois altímetros Multi 3 com o vendedor (fabricante do Infinity) que também estava no campo.
Tudo pronto para a primeira bateria. Eu so voaria no quarto grupo dos 8 que estavam programados e aproveitei para assistir aos vôos. Notei que a forma de voar é agressiva. Os motores são voados à pleno com curvas bruscas e fechadas. Alguns dizem que o modelo mostra térmica melhor em alta velocidade pois chacoalha quando passa por ela e claro cobre mais espaco nos 30s disponíveis. Eu me mantive na técnica que aprendi com o voo livre e com o Mariode Lucca de olhar para o vento no mato, nas bandeirinhas, nas árvores e tentar prever onde está a térmica antes de largar.
1a Bateria.
Tempo frio, um pouco de vento e um pouco de sol. Muitos usavam uma região que há um hangar e seu pátio como fonte para pequenas bolhas que se desprendiam ao encontrar as árvores nos fundos do hangar. Me pareceu uma boa estratégia. Decolei com meia potencia e fui me deslocando a favor do vento para esta posição. No meio do caminho resolvi diminuir o motor e ocorto sem querer, estranho porque havia programado uma chave de idle como seguranca mas cortou mesmo assim. Felizmente a escolha foi boa e encontrei uma bolha logo à frente. Subir foi tranqüilo, e fechei o voo com 9:55, 46m de altura FAI e pouso a 2m do alvo, achei que tinha ganhado a bateria mas esses números só me renderam 987 pontos.

2a bateria
Aumentei o valor de idle no rádio para evitar outro corte inadvertido. O vento agora soprava mais forte mas na mesma direção e as térmicas estavam um pouco mais consistentes. Fiz a mesma estratégia. Cortei sem querer de novo com 43m, voei 9:53 e dessa vez acertei o alvo mas, mesmo assim, fiquei com menos de 1000 pontos.

3a Bateria
Uma pausa de 40 minutos para almoço foi feita e tempo mudou completamente. O sol foi coberto por nuvens espessas, o dia ficou escuro, o vento girou 90 graus alinhando-se com a pista e dobrou de intensidade. Observei os vôos anteriores e não havia mais térmicas apenas pequenas bolhas que passavam pelo campo sopradas pelo vento forte. A maioria do pessoal usava uma linha de árvores para tentar algum tempo extra mas claramente não era suficiente para manter os modelos no ar.
Adicionei 100g de lastro ao modelo mas não quis exagerar pois sabia que não acharia lift que valesse a pena. Larguei alto, 138m. Alto, mas mais baixo que a grande maioria. Fiquei surfando as bolhas sem girar, voando lento no ar bom e escapando lateralmente do ar ruim. Um Stork estava mais baixo que eu e tentou o mesmo. Desistiu faltando 3min e veio para pouso. Alguns modelos giraram bolhas e se foram com o vento, muita gente pousou fora. Outros conseguiram se manter mas largaram mais alto.
Passados 8 minutos pensei que não conseguiria o tempo ao pegar uma descendente forte, acelerei para o lado e me encontrei baixo, 20m, numa bolha. Aproveitei a distancia que tinha contra o vento para girar e garantir o tempo. Infelizmente apanhei do ar próximo ao pouso e errei o centro por 8m. O resultado foi meu pior voo até agora com 942 pontos.

4a Bateria
Mais uma vez uma mudança no tempo desta vez para melhor, o vento girou mais 45 graus e se manteve em intensidade mas o sol saiu, ja tímido as 17:45 mas muito melhor do que o tempo escuro e frio. Larguei à plena potencia para frente buscando uma boa posicao em uma parte mais baixa do terreno, subi mais do que devia por medo mas mesmo assim acho no demais, 131m. Cortei o motor longe e em um bom ar, estava distante dos outros modelos e subindo rápido, devo ter passado dos 600m nesse voo. A maioria dos pilotos também conseguiu bons voos. 9:58, errei o centro por 1m no pouso, e guardei menos de 1000 pontos.

O quinto round foi iniciado nas mesmas condições e foi voado ate o terceiro grupo apenas, o primeiro dia de competição estava terminado, com promessa de chuva para o dia seguinte.
Aproveitei o tempo entre as rodadas para montar o modelo leve e usei o final da tarde para testa-lo, após alguns voos estava seguro que o modelo se comportava bem e arrisquei alguns voos de encosta nas árvores, excelente.
Desmontei os modelos e montei a barraca enquanto uma frente se aproximava. Ventou forte, esfriou e em seguida veio água, muita água! Esta noite era comemoração do aniversário de 50 anos do Vladmir Graviklo (fabricante do Supra, Snipe, Maxa, etc….) e por isso uma pequena festa foi feita. 
Um painel central do Maxa Storm especialmente adaptado foi usado como mesa para bebidas e em algumas vezes como palanque (essa asa do Maxa Storm é ridícula de forte) a galera se empolgou com as mangueiritas e encheu a lata. Foi uma ótima chance para conversar e conhecer boas pessoas como o pessoal do time francês e os russos/ucranianos como o AndrejYakolev (fabricante do Flitz ). Bebi mais que devia e me recolhi a minha tenda para dormir.
Acordei no dia seguinte com chuva e meio tonto. Recolhi a barraca e decidi caminhar para colocar a cabeça no lugar. A chuva passou e a neblina começou a ceder mas o céu continuava densamente nublado com teto mais baixo que 150m.

5a bateria
Os voos não foram difíceis na maioria dos rounds ja que o ar estava bom. Mas nao muito melhor que o suficiente para zerar a descida. Resolvi arriscar, sai com pouca potencia, encontrei uma bolha e cortei bem baixo, em cima do campo de milho e à favor a brisa que soprava, o modelo muito leve ajudou nessa hora e fiquei num zero positivo por alguns minutos. Consegui alguma altura e até o fim do voo não devo ter chegado em 80m, caprichei no pouso e cravei o centro nos últimos segundos. Voo perfeito, essa não tinha como perder.
Abri o modelo e o altímetro não mostrava a altura, anulando o resultado. Baixei os dados e constatei 37m. Mesmo assim, voo anulado.
Puto com o resultado mas ciente das regras fui tentar entender como era possível um altímetro certificado pela FAI (sim isso existe: https://www.fai.org/page/ciam-edic) poderia estar assim. Coloquei os dois que tinha em serie e ambos falham da mesma forma: nao disparam o timer com potencia baixa…. Testei o do Palo e o mesmo problema aconteceu. Fui falar com o vendedor que havia garantido que estavam em boas condições, ele usa o mesmo ESC que eu e disse que nunca teve problemas, estranho…. Mas lição aprendida de testar o equipamento antes, em todas as situações possíveis e ter certeza do funcionamento


6a Bateria
O Zero da bateria passada me obrigou a manter o resultado do terceiro e assim despenquei para 29a posição. O tempo melhorou e esquentou, alguns raios de sol agora iluminavam o campo e o vento continuava quase nulo. Sem nada a perder e sem chances de me classificar para o flyoff tentei um voo muito baixo. Lancei com motor bem reduzido, vários pilotos se lançaram para cima dos hangares e alguns para frente. Satisfeito com a posição, acelerei ate o máximo e cortei em seguida com 17m bem na frente do lançamento. Concentrado, flaps baixos e girei o ar fraquinho mas suficiente para um zero por 3 minutos sem ganhar nada. Muita paciência e e muitos ajustes finos de posição me fizeram conseguir subir alguns metros. Ao longo do voo foi possível aumentar a altura e após 7 minutos tinha quase 100m, é incrível como 100m parece super alto para quem ficou tanto tempo perto do chão. Pouso no alvo e 9:57, excelente voo, sai contente com o resultado, esse sim era um voo excelente.

Resultados
O bom voo da 6a bateria e essa trapalhada de altímetro na quinta (era outro voo de 1000 pontos)me tirou de quinto para 16 lugar me deixando fora do flyoff (classificam 14).
O flyoff foi espetacular, em todas as baterias vento alinhado com a pista e sol. Cortes todos baixos e modelos sendo arrastados pelo vento. Os pilotos vao andando atrás e a maioria se deslocou mais de 400m tentando subir para depois voar e correr de volta. Poucos conseguiram. O cenário se repetiu nos dois voos seguintes e terminou com uma vitoria do mais consistente.
Desmontei acampamento e voltei de carona com o Vitaly que mora em um cidade próxima a minha. 6h de Estrada, um kebab e estava em casa, triste por nao poder voar o flyoff mas feliz pelos novos amigos e por saber que a escola brasileira de F5J é tao boa quanto as melhores da Europa. Percebi que o nível é muito alto e mesmo voos muito bons nao bastam, tem que ser excelentes em todos os quesitos. 
Percebi também que qualquer modelo daqueles poderia ter vencido e a que a precisão no voo e estratégia são muito mais importantes que qualquer servo, motor ou novidade.
Esse foi o Intertour para mim, sentindo falta de falar português e dos bons amigos mas feliz com o sentimento de dever cumprido.
Bora voar e afinar os dedos pessoal

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